8. MINI-HISTÓRIAS (Rapsódias da vida cotidiana nas escolas do Observatório da Cultura Infantil - OBECI


As mini-histórias como um conceito de narrativa pedagógica  
Paulo Fochi

A Documentação Pedagógica como estratégia para a construção do conhecimento praxiológico.

Tratar das mini-histórias sem antes situar em uma dimensão maior, fragiliza e empobrece a riqueza do que vivenciamos no OBECI a partir dessa estratégia de comunicação.[...]

O verbo documentar é sinônimo de registrar, de produzir documentos, evidências. [...]

Já o substantivo documentação trata-se do documentos construído a partir dos registros realizados, ou seja, do produto em si (livreto, folheto, vídeo, painel, mini-história, portfólio). [...]

O conceito de pedagógico da Documentação Pedagógica envolve um modo de olhar, de refletir, de fazer, de pensar e de comunicar o cotidiano pedagógico e as aprendizagens das crianças e dos adultos. Nesse sentido, tenho defendido que esse conceito, enquanto uma estratégia para a construção do conhecimento praxiológico, vai muito além de um modo de registrar e comunicar, pois transforma o sistema de relações no interior das escolas e reposiciona crianças e adultos no processo educativo (FOCHI, 2019).

As mini-histórias: narrar e argumentar sobre o cotidiano e a aprendizagem das crianças
O conceito das mini-histórias surgiu nos anos oitenta, em Reggio Emillia, quando Malaguzzi convida as professoras a narrar sobre os percursos de aprendizagens das crianças através de breves relatos visuais e textuais.

[...]
Vera Vecchi (2013, p. 211), atelierista e companheira de trabalho de Loris Malaguzzi define a mini-história como um gesto de:
Capturar por meio da fotografia e das palavras das crianças, uma síntese que dê a essência do contexto e das estratégias utilizadas pelas crianças carregadas de um sentido mais profundo do que está acontecendo [...] com o objetivo de mostrar o máximo possível, a aprendizagem, a atmosfera, o sentido de vida que pula dentro do grupo.
[...]
Ao reconhecer a mini-história como uma das formas de testemunhar à respeito das crianças, da docência e da própria escola, entendo essa forma episódica de comunicar como uma breve narrativa imagética e textual, em que o adulto interpreta os observáveis de modo a tornar visíveis as rapsódias da vida cotidiana.

[...]
Nas mini-histórias, a escolha pela narrativa como forma de construção da realidade esta diretamente ligada ao compromisso subjetivo que se deve assumir quando se decide contar algo sobre a experiência de alguém. Bruner (1997, p. 17), vai destacar que a narratividade é a melhor estratégia para acolher a atividade mental humana e sua relação com os instrumentos da cultura, pois "a narrativa trata das vicissitudes das intenções humanas".

Nesse sentido, as mini-histórias, como uma narrativa que pode criar círculos de compreensão em torno do conhecimento pedagógico, podem ser uma forma de sair das descrições simplificadas sobre o cotidiano e as aprendizagens das crianças, já que a essência da narrativa é a "preocupação com a condição humana" (BRUNER, 1997, p. 15).

[...]
Hoyuelos (2006, p. 176) observa que, na obra pedagógica de Malaguzzi, a metáfora "abre o mundo do possível, do indeterminado, da transgressão imprescindível para abordar a realidade de maneira inesperada. Dessa maneira, a metáfora para Loris é uma força transformadora do real, uma rede de novos valores criativos distantes das garras do já sabido".

[...] Escolher contar algo sobre as crianças diz muito mais do que querer contar tudo. [...] É possível também saber muito sobre o professor e sobre a escola em cada mini-história, pois aquilo que é escolhido ser narrado representa o conjunto de crenças  e valores celebrados pela instituição  e concretizado no cotidiano pedagógico.

Algumas considerações finais: desdobramentos dentro e fora da escola
As mini-histórias que são afixadas nas paredes das escolas criam uma nova pele subjetiva sobre as relações, as aprendizagens, as brincadeiras, a convivência e os modos de construção do conhecimento dos meninos e das meninas. O modo de planejar dos professores e de construir a continuidade do planejamento também se vale desse exercício de narrar.

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