8.3 MINI-HISTÓRIAS (Rapsódias da vida cotidiana nas escolas do Observatório da Cultura Infantil - OBECI

A construção de mini-histórias: a linguagem da fotografia, da narrativa e do design para a construção da comunicação
Alcione Machado Júlio
Ivana Vidor Marques
Letícia Caroline da Silva Streit
Paulo Fochi
Samantha Ferreira
Viviane Zimermann Heck

A linguagem fotográfica
Para realização do registro na Educação Infantil, é essencial o desejo do professor para conhecer e investigar as crianças. Ter em mente o que quer contar de um processo vivido pelos meninos e pelas meninas ou do que está pesquisando junto à criança é fundamental para registrar essas descobertas.

[...] Cabe ao professor refletir sobre suas práticas de registro e escolhas para que sirvam também como fonte de pesquisa e estudo. É necessário ter em mente que a fotografia, como ferramenta de prática docente, é um meio que permite revisitar quantas vezes for necessário para aprender, descobrir, problematizar e pensar em ações futuras.
[...] 
Depois de ter em mente o que irá fotografar, faz-se necessário colocar-se numa posição em que não distraia nem influencie os bebês e as crianças em suas ações e em seus movimentos. Colocar-se como observador proporciona bons registros de gestos e das emoções dos meninos e das meninas.

Qual a linguagem da fotografia?
[...]
Fotos posadas, tornam a cena artificial, pois, em geral, não contam sobre o que efetivamente está acontecendo e se centram apenas no produto final, deixando de lado o mais importante: a experiência vivida e a expressão ou o movimento da criança.

Composição visual
A escolha da cena para definir o enquadramento faz parte da composição visual. Cada elemento que aparece na imagem deve ter um sentido, uma razão e servir para evidenciar o que foi definido como importante pelo professor e somente esses devem aparecer no visor.

Ângulo
[...]
Outra sugestão importante, ao fotografar as crianças é posicionar a câmera no mesmo nível dos olhos delas, se necessário abaixar-se ou sentar-se no chão para fazer registros. Essa é uma forma de garantir uma foto mais natural e até de mais proximidade da criança e de suas ações.

Campo conceitual
[...]
Fotografar também é um convite para abrir e reeducar o olhar, a escuta. A captura de imagens é feira de escolhas conscientes do que emociona o fotógrafo, em nosso caso, o professor, "é necessário que nos sintamos envolvidos naquilo que fixamos através da lente (...) É colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olhar e o coração. É um modo de viver" (CARTIER-BRESSON, apud MALVASI; ZOCCATELLI, 2013, p. 61).

A escolha das fotos como processo
[...]
Não há um número "certo" de imagens a serem escolhidas para as mini-histórias, pois isso pode variar de caso para caso. Há ocasiões em que apenas uma imagem será suficiente para contar o que se deseja comunicar. Também pode-se utilizar tanto uma foto e/ou um exemplar das produções das crianças. Em outras situações, uma sequência de imagens talvez se adeque melhor para um processo. [...]

Mini-histórias da nossa experiência
[...]
Quando optar por uma sequência de fotos, deve-se ponderar se essa enriquece a narrativa ou apenas a torna repetitiva. Uma sequência de fotos deve ser bem organizada e mostrar a evolução de  uma cena, ou seja, algo que mudou entre um clique e outro e mostre, o que, de fato, se sucedeu naquele momento.
[...]
As fotos selecionadas precisam ser claras no que diz respeito à ideia que se quer comunicar e isso envolver ter compreensão sobre os aspectos técnicos como boa iluminação, foco e que mostrem as emoções, expressões e/ou os movimentos da/s criança/s. Uma outra dica é referente à posição das imagens  (horizontal ou vertical), algumas cenas podem ser melhor capturadas quando realizadas na vertical, enquanto outras (especialmente cenas mais amplas) a horizontalidade é melhor. Esse mesmo aspecto da posição das imagens precisa ser bem pensado no layout de organização da mini-história.
[...]
A forma de escrita da mini-história revela o foco narrativo escolhido pelo professor para contar um fato. [...] há três tipos de narrador e respectivos focos narrativos:
Narrador personagem -  narra em 1ª pessoa e participa da história.
Narrador observador - narra em 3ª pessoa e não participa.
Narrador onisciente - narra em 3ª pessoa, mas, conhece os fatos e as personagens, pode manifestar sua presença por meio de falas, reflexões, ou seja, usar também a 1ª pessoa para narrar, colocando-se na cena. 

[...] a escrita da mini-história é como se realmente estivéssemos peneirando, elegendo algo dentre todas as possibilidades. Ao selecionarmos as imagens da mini-história que vamos escrever, muitas tramas poderiam realmente ser possíveis, porém é como se usássemos uma peneira para ver o que fica, o que mais se destaca.

[...] Em nosso entendimento, o exemplo que mais se aproxima da mini-história é a crônica.

[...] A ideia da chave de leitura está ligada à compreensão do sabor evocativo dos observáveis quando são revisitados para a construção da comunicação, neste caso, a mini-história (FOCHI, 2019).

[...]Temos entendido e defendido que a mini-história além de ser uma relevante oportunidade de compartilhamento do cotidiano pedagógico com pais e com colegas professores, para as crianças também tem se mostrado importante para que percebem que alguém está atento a elas e atribui sentido e valor para as suas ações.
[...]
É importante lembrar para quem estão endereçadas as mini-histórias que, na maioria das vezes, são os pais. Portanto, trata-se de um texto curto, sem citações de teóricos, com linguagem leve, que diz muito com pouco, características usuais da linguagem literária. Ainda sobre os aspectos formais, sugerimos que a comunicação sempre mencione a autoria de quem produziu as imagens e o texto, o nome das crianças protagonistas (e, quando possível, a idade delas na ocasião) e localizar  no tempo (mês e ano) e no espaço (nome da escola). Esse material compõe uma herança pedagógica sobre uma dada prática pedagógica e sobre as histórias de aprendizagem das crianças.

Um outro ponto a ser salientado é de que o texto deve conversar com as imagens escolhidas e não apenas descrevê-las. Para isso, podemos fazer um paralelo com a ilustração e o texto de um livro infantil. A ilustração de um bom livro infantil nuca será tal qual o que narra o texto, mas sempre complementá-lo. Isso também vale no caso da mini-história.

[...]
Ao escrever mini-história, o professor passa a refletir muito mais sobre sua prática, seus posicionamentos e sua presença junto às crianças. A escrita de mini histórias, juntamente com outras formas de comunicações, possibilita acompanhar o processo de aprendizagem das crianças e da nossa aprendizagem a partir da reflexão sobre a própria prática pedagógica.

Para além de todas as dicas de escrita de mini-história, vale ressaltar, também, a importância da leitura de literatura e o quanto essa enriquece o repertório de produção escrita do professor. Ler literatura, crônicas mais especificamente, enriquece a escrita e enriquece a vida.

[...]
Aprender sobre comunicar as aprendizagens das crianças e o valor do cotidiano pedagógico também comungam com as ideias de uma professor que precisa reinventar e pesquisar a cada dia para se tornar protagonista da sua ação pedagógica.



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