9. A VIDA NÃO É ÚTIL (Aiton Krenak)
A MÁQUINA DE FAZER COISAS
O que há para ser celebrado no fato de que podemos falar numa live para 3 mil ou 4 mil pessoas por um aparelhinho que é produto de uma civilização que está comendo a Terra para fazer brinquedos? Só que a Terra é um organismo muito maior que nós, muito mais sábio e poderoso, e nós, seu brinquedo mais inútil. A Terra pode nos desligar tirando nosso ar, não precisa nem fazer barulho. (Pag. 60)
[...] Existe um desejo de que essa condição de consumo da vida se estenda por tempo indeterminado, sem que a máquina de fazer coisas precise ser desligada.
O sistema capitalista tem um poder tão grande de cooptação que qualquer porcaria que anuncia vira imediatamente uma mania. (pag. 61)
[...] A ciência e a tecnologia acham que a humanidade não só pode incidir impunemente sobre o planeta como será a última espécie sobrevivente e a única a decolar daqui quando tudo for pelo ralo. (pag. 63)
[...] nós somos muito piores do que esse vírus que está sendo demonizado como praga que veio para comer o mundo.Alguns têm consciência disso e gritam desesperadamente. (pag. 64)
[...]
O capitalismo quer nos vender até a ideia de que nós podemso reproduzir a vida. Que pode inclusive reproduzir a natureza. A gente acaba com tudo e depois faz outro, a gente acaba com a água doce e depois ganha um dinheirão dessanilizando o mar, e, se não for suficiente para todo mundo, a gente elimina uma parte da humanidade e deixa só os consumidores. (pag. 66)
[...]
Em Esferas da Insurreição, Sueli Rolnik diz que o capitalismo sofreu uam transformação tão grande que virou necrocapitalismo; que esse capitalismo nem precisa mais da materialidade das coisas, pode transformar tudo numa fantansia financeira e fazer de conta que o mundo está operante, ativo, mesmo quando tudo estiver entrando pelo cano. É uma distopia: em vez de imaginar mundos, a gente os consome. Depois que comermos a terra, vamos comer a lua, Marte e outros planetas. A mesma dificuldade que muitas pessoas tem em entender que a Terra é um organismos vivo, eu tenho em entender que o capitalismo é um ente com o qual podemos tratar. Ele não é um ente, mas um fenômeno que afeta a vida e o estado mental de pessoas no planeta inteiro - não vejo como dialogar com isso. (Pag. 68-69)
[...]
Muitos povos, de diferentes matrizes culturais, têm a compreensão de que nós e a Terra somos uma mesma entidade, respiramos e sonhamos com ela. Alguns atribuem a esse organismo as mesmas suscetibilidades do nosso corpo: dizem que esse organismo está com febre. Faz sentido: nós não somos constituídos de dois terços de água e depois vem o material sólido, nossos ossos, músculos e carcaça? Somos microcosmos do organismo Terra, só precisamos nos lembrar disso. (Pag.72)
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