3. O dilema do porco espinho - como encarar a solidão (Leandro Carnal)


INTRODUÇÃO - Para começar


Se considerarmos que um amor correspondido seria o perfeito oposto da solidão, entenderemos que quase toda a arte e literatura gira entre os dois polos: estar só ou estar acompanhado. Fugir ou buscar o isolamento, encontrar ou perder o amor é o eixo definidor da própria cultura humana. O poeta Rainer Maria Rilke, definiu que o amor era apenas duas solidões protegendo-se uma à outra. Quase podermos ver a ligeira ironia contida na afirmação: amor é solidão compartilhada.
É um sentimento amplo, poderoso e fundamental.
Uma criança cria amigos imaginários para viver suas fantasias. Dizem que é saudável. Que seres seríamos capazes de inventar para não reconhecer nossa solidão? (p. 13-14)

CAPÍTULO 2 - A solidão entre milhões: redes e mundo virtual

[...] Talvez não seja a solidão que nos cause horror, mas a falta de controle sobre estar só ou acompanhado. [...]

Nenhuma escrita sobre a solidão poderá ignorar o celular, a muleta suprema que criamos para ter o suficiente isolamento do mundo aliado ao contato com quem e quando desejamos. Somos deuses com ele e decidimos que não é bom que estejamos sós e que, da mesma forma, é ótimo voltar à nossa concha confortável. [...]
[...] Vivemos perfeitamente felizes, em ilhas que cabem em nossas mãos.
[...]
O isolamento tem efeito na medicina. O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos registra que triplicou o número de casos de pacientes com transtorno narcisista de personalidade. Os pacientes são majoritariamente jovens com 20 anos. A geração do baby boomers manteve os mesmos níveis desses transtornos que eram registrados antes do advento da internet.

[...] Na dor encontro algo novo, um limite, um conhecimento a mais no grão de areia que a ostra pode transformar em pérola. Conviver com a diferença é administrar o atrito inevitável é um ato de maturidade. Ser contrariado, questionado, posto em suspeição, rejeitado, desde que não sejam as únicas experiências que conheça, criam resiliência, moldam personalidade, caráter.
[...]
[...] É importante lembrar que solidão não é sinônimo de estar sozinho e que companhia não se funde  com a ideia de estar acompanhado. Solidão também não é negativa ou positiva em si.
Para que a solidão seja positiva, há uma condição essencial. Isolado das pessoas e em contato comigo, r efletindo ou lendo, eu me sinto acompanhado sem estar com ninguém. Assim, mesmo estando sem ninguém, a solidão não pesa ou se transforma em angústia.  Ela me lava a um conhecimento maior de mim: ou a uma chance de pensar;  ou ao prazer de ler;  ou ao deleite de uma paisagem em silêncio. Estou sem mais ninguém e me sinto bem, preenchido, pleno., até. Sempre acreditei que uma pessoa deveria ter até mesmo a necessidade de isolamentos periódicos, quase como uma vacina contra a algaravia do mundo.

[...] Conviver com a diferença em qualquer campo é um salto na sua própria consciência.

Aqui lanço minha ideia, querida leitora ou estimado leitor. Recapitulo: a solidão pode ser um exercício contemplativo muito bom e um pouco de crescimento. O convívio também pode ser rico pela diferença e pelo atrito em si. As redes sociais não  oferecem o isolamento necessário para o crescimento nem a intimidade densa e até conflituosa da relação humana. Não ganho a paz e nem enfrento a diferença.

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