5.4 O jogo e a criança (Jean Chateau)
CAPÍTULO III - OS JOGOS, AS IDADES E OS CARACTERES
A. - Os jogos e os caracteres
Concluímos o estuda da natureza propriamente dita do jogo. Mas resta-nos compreender não o papel que justifica sua existência, sem o que a seleção natural sem dúvida teria eliminado uma espécie perdendo toda uma longa infância e atividades inúteis, mas o que podemos atribuir arbitrariamente ao jogo. Ao lado do que se poderia chamar seus fins naturais (pré-exercício, afirmação do eu), o jogo pode de fato assumir fins artificiais. o adulto pode usá-lo a fim de conhecer e de formar a criança. (p. 96)
[...] o estudo do jogo pode igualmente trazer dados de primeira ordem, mostrando por exemplo, como os interesses da criança evoluem deidade para idade e como as tendências primitivas vão se diversificando, se combinando, se complicando. (p. 96)
[...] o jogo dá origens a inúmeras atividades superiores, senão a todas, arte, ciência, trabalho, etc. Ele constitui, portanto, como o vestíbulo natural dessas atividades; é por seu intermédio que a criança pode chegar a elas. Sabe-se assim que se pode buscar no jogo um meio de educação. Os métodos ativos têm usado e às vezes abusado do jogo. Convém, portanto, ver em que sentido e até que ponto o jogo pode conduzir a criança ao limitar da vida social e fazê-la conhecer o trabalho. (p. 97)
[...]
Que o jogo possa assim servir como meio de análise de caráter, é fato que não nos surpreende. Como bem sabemos, a criança se dá inteiramente a seu jogo, porque este lhe serve para afirmar sua personalidade total. Há, para cada criança, um estilo de jogo, como há um estilo característico de cada artista. Basta olhar com atenção uma coleção de desenhos de crianças para perceber logo a diversidade dos estilos. O desenho de uma criança, dizia Claparède é "um pouco de sua alma exposta no papel". Mas essa afirmação vale para todos os jogos infantis. "Os desejos secretos da criança - ser grande, forte, hábil, célebre -, suas simpatias, antipatias, gulodice, sensualidade, crueldade se refletem em seus jogos prediletos." Se assim é, não devemos usar esses jogos para desvelar seu caráter oculto? Não podemos buscar ajuda nos jogos comuns como buscamos nos desenhos e histórias? Parece que sim. (p. 98)
[...] O jogo, nunca é demais repetir, é coisa séria, é mesmo a coisa mais séria para a criança. Pelo jogo, ela se encontra, a maior do tempo, do lado oposto do sonho. (p. 100)
[...]
Será então que negamos ao jogo, salvo alguns casos excepcionais, todo valor como meio de análise de caráter? Absolutamente, mas não acreditamos que se deva apelas sempre para tendências ocultas, que apenas uma interpretação psicanalítica descobriria. [...] Como os pedagogos sabem, a criança mostra claro em seus jogos suas disposições essenciais, ainda quando está de má-fé. [...] No jogo, a criança mostra, aliás, sua inteligência, sua vontade, seu traço dominante, sua personalidade, enfim. [...] Mas não é necessário, para entender esses signos, nenhum conhecimento psicanalítico. O essencial é conseguir se colocar no lugar da criança, é ter o que poderíamos chamar de "a percepção da criança". (p. 100-101)
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