2.7 Walden (H. D. Thoreau)
CONCLUSÃO
Todo homem é senhor de um reino ao lado do qual o império terreno do czar não passa de um estado minúsculo, um montículo deixado pelo gelo. Mesmo assim, existem aqueles que não têm respeito por si mesmos e são patriotas, e sacrificam o maior ao menor. Eles amam o solo de duas sepulturas, mas não têm qualquer afinidade com o espírito que ainda pode lhes estar animando o barro da existência. [...] (p. 303)
[...] Mesmo que você aprenda a falar todas as línguas e a seguir os costumes de todas as nações, que viaje mais longe do que todos os viajantes, adapte-se a todos os climas e faça a Esfinge dar com a cabeça contra a pedra, obedeça sempre ao preceito do antigo filósofo, e Explora-te a ti mesmo. [...]
(p. 304)
Deixei a mata por uma razão tão boa quanto a que me levou para lá. Talvez me parecesse que eu tinha várias outras vidas a viver, e não podia dedicar mais tempo àquela. É notável a facilidade e a insensibilidade com que caímos numa determinada rotina, e construímos uma trilha batida por nós mesmos. Eu vivia lá não fazia uma semana, e meus pés já tinham calcado um caminho de minha porta até o lago; embora façam cinco ou seis anos desde que eu o palmilhei, ainda é claramente visível. Receio, é bem verdade, que outros possam ter caminhado por ali, e assim ajudaram a mantê-lo aberto. A superfície da terra é macia e se deixa imprimir pelos pés dos homens; o mesmo ocorre com os caminhos por onde viaja a mente. como, então, devem ser gastas e empoeiradas as estradas do mundo, como são fundos os sulcos da tradição e da conformidade! Eu não quis pegar uma cabine de primeira classe sob o tombadilho, mas viajar de segunda, na frente do mastro e no convés do mundo, pois dali podia enxergar melhor o luar entre as montanhas. Não pretendo descer agora.
Aprendi com a minha experiência pelo menos isto; se o homem segue confiante rumo a seus sonhos e se empenha em viver a vida que imaginou, ele terá sucesso inesperado em momentos comuns. Deixará alguma coisa para trás, cruzará uma fronteira invisível; novas leis universais e mais liberais começarão a se estabelecer por si sós ao redor e dentro dele; ou as velhas leis se ampliarão e serão interpretadas em seu favor num sentido mais liberal, e ele viverá com a licença de uma ordem superior de seres. A medida que ele simplifica sua vida, as leis do universo se mostrarão menos complexas, e a solidão não será solidão, nem a pobreza pobreza, nem a fraqueza fraqueza. Se você tiver construído castelos no ar, não será trabalho perdido; é ali mesmo que eles devem estar. Agora ponham-lhes alicerces.
(p. 305-306)
[...] Melhor o cão vivo do que o leão morto. Então o homem teria de se enforcar porque pertence à raça dos pigmeus, em vez de ser o maior pigmeu que puder? Que cada qual cuide de seus afazeres, e se empenhe em ser como foi feito.
(p. 307)
Por mais mesquinha que seja sua vida, aceite-a, viva-a; não se esquive a ela nem a trate com termos duros. Ela não é tão ruim quanto você é. Quem vê defeito em tudo verá defeitos até no paraíso.Ame sua vida, por pobre que seja. [...]
(p. 309)
[...] A riqueza supérflua só pode comprar supérfluos. Não é preciso dinheiro para comprar o necessário à alma. (p. 310)
{...] Não sabemos onde estamos. Além disso, passamos quase metade do nosso tempo num sono profundo. E no entanto julgamo-nos sábios e temos uma ordem estabelecida na superfície. Realmente, que pensadores profundos, que espíritos ambiciosos somos! [...]
(p. 313)
[...] A luz que extingue nossos olhos é escuridão para nós. Só amanhece o dia para o qual estamos despertos. O dia não cessa de amanhecer. O sol é apenas estrela da manhã;
(p. 314)
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