2.5 Walden (H. D. Thoreau)
LEIS SUPERIORES
[...] A objeção prática ao consumo de carne, em meu caso, era a impureza; além disso, depois de apanhar, limpar, cozinhar e comer meu peixe, eu não me sentia essencialmente nutrido. Era uma coisa insignificante e desnecessária, e custava mais do que rendia. Um pouco de pão ou algumas batatas teriam dado na mesma, com menos incômodo e menos sujeira. [...] A lagarta voraz, quando transformada em borboleta (...) e o gusano glutão quando convertido em mosca se contentam com uma ou duas gotas de mel ou del algum outro líquido doce. O abdômen sob as asas da borboleta ainda representa a larva. Este é o petisco que tenta seu destino insetívoro. O comilão é um homem em estado larvar, e existem nações inteiras nesta condição, nações sem fantasia nem imaginação, traídas por seus vastos abdomens.
(p. 207)
[...] Os maiores valores e ganhos são os mais difíceis de ser apreciados. Não raro chegamos a duvidar que existam. Logo os esquecemos. Eles são a mais alta realidade. Talvez os fatos mais assombrosos e mais reais nunca sejam comunicados de homem a homem. É um pouco de poeira das estrelas que eu apanho, um pedaço do aro-íris que eu colho.
[...] Entre todas as espécies de embriaguez, quem não prefere se inebriar com o ar que respira? [...]
(p. 209)
[...] O que degrada um homem não é o alimento que entra pela boca, e sim o apetite com que é comido. [...]
Nossa vida toda é alarmantemente moral. Nunca há um instante de trégua entre a virtude e o vício. A bondade é o único investimento que nunca falha.
(p. 210)
Temos consciência de um animal dentro de nós, que desperta na proporção em que nossa natureza mais elevada adormece. É réptil e sensual, e talvez não possa ser totalmente expelido; como os vermes que, mesmo em vida e com saúde, ocupam nosso corpo. Podemos talvez nos retrair diante dele, mas nunca lhe alterar a natureza. Receio que ele tenha uma certa saúde própria; que possamos estar bem, mas não puros. [...]
(p. 211)
Todo homem é o construtor de um templo, chamado corpo, dedicado ao deus que ele cultua, num estilo puramente seu, e não pode se desobrigar apenas malhando o mármore. Somos todos escultores e pintores, e nosso material é nossa própria carne, nosso sangue e nossos ossos. Toda a nobreza logo começa a refinar os traços de um homem; toda mesquinharia ou sensualidade, a embrutecê-los.
(p. 213)
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