2.3 Wladen (H. D. Thoreau)
SOLIDÃO
[...]
Com o pensamento, podemos estar ao nosso próprio lado, num sentido saudável. Por um esforço consciente da mente, podemos nos elevar acima das ações e de suas consequências; e todas as coisas, boas e más, passam por nós como uma torrente. Não estamos totalmente envoltos na natureza. Posso ser a madeira flutuando na correnteza ou Indra no céu olhando-a das alturas. Posso ser afetado por uma apresentação teatral; por outro lado, posso não ser afetado por um acontecimento real que parece me dizer muito mais a respeito. Só me conheço como entidade humana; o palco, por assim dizer, de pensamentos e afetos; e percebo uma certa duplicidade graças à qual posso me afastar de mim mesmo como de outrem. Por mais intensa que seja minha experiência, tenho consciência da presença e da crítica de uma parte de mim, a qual, por assim dizer, não é parte de mim, mas é um espectador, que não partilha a experiência, mas toma nota dela; e que não é você nem sou eu. Quando a peça ou, talvez, a tragédia da vida termina, o expectador vai embora, Para ele, era apenas uma espécie de ficção, uma obra da imaginação. Às vezes essa duplicidade facilmente nos torna maus amigos e vizinhos.
(p. 134)
Acho saudável ficar sozinho a maior parte do tempo. Ter companhia, mesmo a melhor delas, logo cansa e desgasta. Gosto de ficar sozinho. Nunca encontrei uma companhia mais companheira do que a solidão. Em geral, estamos mais solitários quando saímos e convivemos com os homens do que quando ficamos em nossos aposentos. Um homem pensando ou trabalhando está sempre sozinho, esteja onde estiver. A solidão não se mede pelos quilômetros que se interpõem entre um homem e seus semelhantes. (p. 135)
[...] Não sou mais solitário do que um verbasco ou dente-de-leão num pasto, ou do que uma folha de feijão, uma azedinha, um moscardo ou um zangão. Não sou mais solitário do que o Açude do Moinho, ou do que o catavento, a estrela do norte, o vento do sul, uma chuva de abril ou um degelo de janeiro ou a primeira aranha numa casa nova. (p. 136)
[...] E como eu não me entenderia com a terra? Não sou também folha e húmus? (p. 137)
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